07 November 2008

turbilhões optimistas

Ando há bastante tempo com este post-comentário na cabeça a este post do Francisco josé Viegas no Origem das Espécies.

Escreveu FJV:
"Vivemos em turbilhão. Depois da “onda de criminalidade violenta” durante o Verão, veio a crise financeira no Outono, com a questão dos combustíveis pelo meio. Não sabemos o que nos reserva o Inverno (Steinbeck escreveu “O Inverno do Nosso Descontentamento”), mas de uma coisa podemos estar certos: dificilmente iremos encarar o futuro com a mesma leviandade. As crises obrigam-nos a repensar o modo de vida e a forma como lidamos com as coisas banais: o preço da bica, as compras de Natal, a roupa do ano passado, os gestos menores do dia-a-dia. Há quem se lamente de que, assim, ficamos mais conservadores. Se for verdade, é uma vantagem. Os ‘optimistas’ têm mais desilusões; os ‘pessimistas’ estão mais preparados para os dias que aí vêm. É uma verdadeira lição de teoria política."

É principalmente a frase "Os ‘optimistas’ têm mais desilusões; os ‘pessimistas’ estão mais preparados para os dias que aí vêm." que me tem feito pensar e concluir que não podia discordar mais.

Porque é que um pessimista está mais preparado para os dias que aí vêm? Porque já não espera nada de bom? Porque acha que isto só tem tendência a piorar? Porque não é um iludido, um leviano? E o futuro é coisa séria? Vendo as coisas assim só me lembro do Fernando Pessoa e a imagem do homem "como cadáver adiado que procria".

Esta crise financeira assusta-me, não vou mentir. Estou na situação mais precária de trabalho que alguma vez estive e continuo com contas para pagar como os outros. Não tenho dívida ao banco mas pago um aluguer todos os meses e temo que algum crash maluco de um sistema financeiro que não entendo mas em que participo me leve as poupanças no banco.

Mas tornar-me pessimista vai ajudar alguma coisa? Vaticinar uma desgraça para o futuro vai-me dar energia para trabalhar e ser melhor no que faço?

Um optimista não tem que ser um iludido. Para mim ser optimista é como ver o copo meio cheio em vez de meio vazio, é olhar para as circunstâncias e ver as coisas positivas, é olhar para o bright side of life mesmo quando há crises e momentos maus! Um optimista não tem que alguém com a cabeça nas nuvens mas pode ser alguém realista que reflicta, trabalhe e lute todos os dias. E isso não é ilusão.

A ideia geral do texto do FJV é, como eu a vejo, positiva: "As crises obrigam-nos a repensar o modo de vida e a forma como lidamos com as coisas banais: o preço da bica, as compras de Natal, a roupa do ano passado, os gestos menores do dia-a-dia. Há quem se lamente de que, assim, ficamos mais conservadores. Se for verdade, é uma vantagem."

Seria realmente uma vantagem desta crise pôr as pessoas a pensar no que é essencial na vida, no seu estilo de vida e nas coisas banais. Pensar se precisam mesmo daquele plasma ou da assinatura da tvcabo. Se precisam mesmo de andar de carro todos os dias. Confesso que apenas não entendo bem como isso nos tem que tornar mais conservadores. Reflectir antes de comprar ou contrair um crédito não pode ser uma coisa má. Ou pode?

Sim, fomos enganados, antes diziam Poupe!, depois disseram Gaste! e agora lixam-se uns, mas também será preciso ver as coisas em perspectiva e analisar quanto mais pobres estamos realmente.
No site Global Rich List uma aplicação permite, depois de introduzir o vencimento global anual, ver a nossa posição no ranking mundial. A título de experiência coloquei o valor de alguém que ganhasse o ordenado mínimo (já o valor futuro): 425€ a 13 meses (são 13 meses que se ganha quando se tem um contrato não é? Eu não sei porque nunca vi nenhum) deram 5,525€.
O resultado é que essa pessoa seria a 838,426,630ª pessoa mais rica do mundo e estaria nos 14% mais ricos do mundo.
Ok podem dizer-me que é difícil comparar o que é ser pobre em Portugal e o que é ser pobre na Guiné. Claro que é e o custo de vida é mais elevado em Portugal e haverá sempre decisões seja de governo ou de mercado que não controlamos e têm implicações nas nossa vida. Mas este simples exercício faz-nos pensar um bocado que esta crise pode trazer coisas boas, austeridade por exemplo. Ser feliz com menos é possível.

A verdade é que é mais fácil atirar culpas para cima dos outros e achar que é o governo e "eles" que nos lixaram a vida quando está nas nossas mãos o modo como estamos no mundo.
You can't change de cards you're given, just the way you play it.

Nestas semanas soube de quatro amigas grávidas e outra deu à luz o seu primeiro filho. Se estivessem pessimistas com o futuro deviam ter comprado mais embalagens de pílula mas a vida não pára e a vida nunca é pessimista. É uma força maior que nós que temos que agarrar.

E o que é que vocês acham?

2 comments:

  1. Que tens toda a razão!
    E que em tudo há sempre um lado positivo e que quem não tem cão caça com gato e dá sempre para fazer projectos.
    Quanto ao lado pessimista eu chamo de "vida de adulto", lololol
    e com isto tudo que acontece assim de um dia para o outro, aqui vou eu para pertinho de ti! :D
    é a prova que nunca é tudo mau!

    ReplyDelete
  2. Os ‘optimistas’ têm mais desilusões; os ‘pessimistas’ estão mais preparados para os dias que aí vêm.

    Em relação a esta frase consigo compreender e concordo que os pessimistas estão mais preparados pq as suas expectativas n estão tão elevadas qt as dos optimistas e por isso mesmo a desilusão é menor, penso eu!
    Mas acredito (embora às vezes tenha alguma dififculdade) e quero mesmo acreditar, que as oportunidades estão nas crises, mas é necessário vê-la com outros olhos, olhos optimistas que nos transportam para o tal 'bright side of life' realisticamente. E concordo claramente ctg de que a culpa não pode ser atirada para cima dos outros mas sim, temos que repensar a nossa forma de estar na vida e no mundo.
    Beijos.

    ReplyDelete

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