26 April 2006

quem sabe faz a hora não espera acontecer

O jantar tinha-me caído mal e não os acompanhei para mais uma bebida. Em frente à televisão com o livro no colo procurava reunir a energia suficiente para me levantar e fazer um chá. No canal 1 começou o concerto do Zeca Afonso no Coliseu, o seu último concerto. De repente sou transportada para a minha infância. Eu e o meu irmão crescemos a ouvir Zeca Afonso, Manel Freire, Chico Buarque, Geraldo Vandré e tantos outros cantores de “intervenção”. Lembro-me de ter medo ao ouvir a Morte Saiu À Rua. A minha música preferida era A Mulher da Erva. Fazia sempre chorar. No dia do funeral do Zeca Afonso chorei como se tivesse morrido o meu avô e não devia ter mais de 6 anos.

Cresci com os cravos, nas manifestações às cavalitas do meu pai, cresci com as histórias do fascismo, com os relatos do que era ser preso político e sempre num misto de dúvida e espanto, eu que sempre fui muito abespinhada, com o simples facto de não se poder dizer o que se pensava.
Não há comentário que mais me irrite que esses que dizem que temos que ultrapassar o 25 de Abril e banalizam as manifestações e discursos do dia. Por mim falava-se do 25 abril o ano inteiro, falava-se bem e falava-se mal, falava-se do PREC, do 25 de Novembro, das FP-25, falava-se do Salazar, da PIDE, do Tarrafal, da Guerra Colonial, dos erros, das conquistas sociais, e até dos complexos idiotas de “temos que ultrapassar o 25 de Abril” como se esquecer o Passado nos abrilhantasse o Futuro.
Ao fim de uns míseros 32 anos já não interessa, a Liberdade é já um valor tão garantido que nem o questionamos e podemos ignorar.
Ainda bem que se podem dizer tantos disparates. Eu, pelo menos um dia no ano, agradeço a todos os que morreram pela Liberdade, e a todos os que ainda morrem pela Liberdade pelo mundo fora. E nunca esquecerei o 25 de Abril que mudou a minha vida antes de nascer. Nem o Zeca Afonso.

5 comments:

  1. Devias ter vindo tomar um copo "cagente"...

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  2. Belas palavras!!!
    Ainda bem que nem todos "querem apagar a memória"!!!

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  3. Para sempre seremos os filhos da revolução: o que vamos fazer com ela? Se é disso que se fala quando se fala de ultrapassagens, eu também quero participar!

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  4. 25 de Abril, sempre.

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