09 January 2006

lisboa reduzida

A minha Lisboa reduz-se a cada dia que passa.
Vivo numa aldeia que vai do Rato ao Chiado onde todos os dias me entroso com os seus habitantes. Sonho com o dia em que vou entrar no café e sem dizer nada o senhor vai dizer "sai uma bica" como com aquela senhora que bebe todos os dia "uma italiana em chávena escaldada". Quem já me conhece são os injustiçados da Procuradoria que recentemente têm estado quase todas as manhãs de plantão à espera que sejam ressuscitados dos mortos... tres mil quinhentos e quantos mais? dias leio diariamente, e até o senhor já me cumprimentou com um bom dia e eu respondi bom dia. Mas não é nada bom pois não?
Fujo do autocarro apinhado e agradeço poder caminhar para o atelier. Cumprimento os japoneses, mais uns conhecidos. Assisto a um roubo de um cacho de uvas. Vejo o dono seguir o homem e trazê-lo pelo braço "Tem que pagar!". Faço um desvio para cheirar a magnífica árvore do Principe Real. Em cada rua que subo e desço há momentos de puro deleite sejam as colinas, seja o rio sempre tão brilhante de manhã. Na Baixa os meninos dos inquéritos já não me perguntam se podem fazer umas perguntas, os punks-malabaristas já não me pedem dinheiro, sou da casa e pennyless. Os pedintes multiplicam-se e o desespero aumenta multiplicando também os modos de pedir como o do vendedor da cais que canta e faz uns movimentos de sapateado.
Qualquer distância de metro leva-me primeiro para a periferia, Saldanha, Praça de Espanha e depois para o subúrbio, para os lados do Campo Grande ou Benfica. Belém, onde fucking subway não chega é outra aldeia, claro. Para o Parque das Nações? Não é preciso passaporte?
A minha Lisboa reduzida reduzida a cada dia que passa.

3 comments:

  1. Apetecia-me dizer-te para comprares uma bicicleta, mes eu próprio não tenho uma. Nem vou comprar. E os meus movimentos também se sentem cada vez mais perros. Que saudades das looooooongas caminhadas que TINHA de fazer em londres. E daquele sistema de transportes, para todos os efeitos, geralmente eficaz. E agora não vou falar de Barcelona porque senão bato em alguém.

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  2. passas por mim todos os dias, e reconheço cada passo entre os injustiçados e a árvore do príncipe real.

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  3. Engraçado. penso muitas vezes nisso. qtas vezes n nos cruzaremos com quem lemos e com quem nos lê!

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