"No meio desta máquina, sem autor e sua vítima, nasce, vive e morre o homem, que criou a cidade para o prolongar, para o servir para ser mais rico, para viver melhor, para ser mais feliz, numa palavra. Mas os seus contactos com a mater natura são mínimos porque a cidade coneporânea é, por definição, contra a natureza e quando a aceita e apenas para demonstrar que pode dominá-la; os contactos com o seu semelhante são episódicos, ocasionais ou forçados porque a cidade esmera-se em ser anti-social e destrói todas as bases de uma vida social harmónica; os seus movimentos são difíceis porque apesar de toda a sua rede de auto-estradas, dos seus metropolitanos, dos seus helicópteros, a cidade é cada vez menor para os veículos que a assediam; a sua habitação é defeituosa porque ele vive empilhado em ediícios monstruosos ou velhas construções ultrapassadas ou nas ilusórias "casas com jardim" dos subúrbios; a sua saúde física e espiritual periga porque a cidade não lhe oferece normalmente condições de vida física equilrada e o seu excessivo dinamismo cria-lhe terríveis doenças mentais - numa palavra, a sua liberdade não existe porque a cidade contemporânea se transformou numa verdadeira prisão."
Fernando Távora, in Da Organização do Espaço, 1962, edições faup
jà disse tudo!
ReplyDeleteEu cá acho, modestamente, que não falou muito bem. É óbvio que a cidade, sobretudo a grande metrópole, siginifica uma profunda e irreversível humanização do território, substituindo-se ao conceito de habitat natural e rural, onde prevalece o domínio da Natureza. Questionem-se o número, dimensão e distribuição dos espaços verdes, mas...
ReplyDelete...sejamos francos quanto a isto:
"Os contactos com o seu semelhante são episódicos, ocasionais ou forçados porque a cidade esmera-se em ser anti-social e destrói todas as bases de uma vida social harmónica".
Uma tirada anti-civilizacional? É o mínimo que encontro para descrevê-la, mesmo que pareça, ainda, unicamente destinada à crítica da cidade contemporânea (ainda que fosse a "moderna", mas não...). E ele está a referir-se à realidade portuguesa?
susana